15/10/2016 - TEMA: Desempenho Reprodutivo na Bovinocultura e Ovinocultura

INTERVALO ENTRE PARTOS NA PECUÁRIA


Em um sistema de produção de cria na pecuária, é uma afirmação óbvia que o número de partos ocorridos por ano está diretamente relacionado à rentabilidade do negócio. Logicamente, quanto maior o número de partos, maior o número de bezerros ou borregos que estarão disponíveis para a venda ou incorporação ao rebanho no futuro. Para vacas leiteiras, também é a partir do parto que se inicia uma nova lactação. Uma das principais missões do técnico e de toda a equipe que trabalha com o rebanho é trabalhar para a obtenção do maior número possível de partos dentro do rebanho, numa busca constante da sua eficiência reprodutiva.

Ordenha rebanho gado de leite

A eficiência reprodutiva é, sem sombra de dúvidas, um dos aspectos de maior importância na pecuária. Juntamente com a sanidade, genética, ganho de peso, alimentação, manejo e administração, ela compõe a base da produção de bezerros, borregos, leite ou qualquer outro produto da atividade. Mas quando se avalia os índices zootécnicos do rebanho, é nos reprodutivos que se enxerga o maior impacto.

Dentro dos índices reprodutivos, o Intervalo entre Partos (IEP) é o que mais representa o desempenho neste campo. O IEP resume o quanto as matrizes (vacas ou ovelhas) de um plantel estão sendo eficientes na reprodução. Quanto menor o intervalo, maior a eficiência, mais produtivos estes animais estão sendo, a sua vida útil está sendo mais bem aproveitada, mais renda estão gerando para o negócio. Na bovinocultura, regra básica é que se busque um intervalo entre partos de 12 meses, ou seja, um parto e um bezerro por ano. Quando se trata de vacas leiteiras, conta-se também uma lactação por ano. Para ovinocultura, é um tema ainda em discussão. Há quem prefira um sistema mais “folgado”, com um parto por ano, principalmente quem trabalha com raças sazonais. E há os que buscam maximizar a eficiência, com um parto a cada 8 meses, com o objetivo de obter o máximo de borregos por ano. Particularmente, apoio a meta de um IEP de 8 meses na ovinocultura.

Vamos fazer uma conta bem simplista para demonstrar o impacto do intervalo entre partos no faturamento da pecuária. Vamos avaliar um rebanho de vacas leiteiras. Com base no mesmo raciocínio fica fácil de extrapolar para ovinos e gado de corte. Para os cálculos os seguintes parâmetros serão assumidos:

- produção por lactação: 6.000 litros
- período de lactação: 305 dias
- total de vacas leiteiras: 100 cabeças
- Intervalo entre Partos do rebanho 1: 15 meses
- Intervalo entre partos do rebanho 2: 12 meses

Avaliando um período de 5 anos, ou seja 60 meses, no REBANHO 1 cada vaca teria 4 partos em média, pois 60 meses dividido por 15 meses de IEP é igual a 4. Portanto as 100 vacas dariam 400 bezerros e 400 lactações.

No mesmo período, cada vaca do REBANHO 2 apresentaria 5 partos em média, portanto 500 bezerros e 500 lactações. Veja o quadro abaixo que sintetiza estas contas e coloca os valores nos produtos.

DIMENSIONAMENTO E ÍNDICES
REBANHO 1 REBANHO 2 DIFERENÇA
TOTAL DE VACAS 100 100
IEP - Meses 15 12
PRODUÇÃO POR LACTAÇÃO - Litros 6.000 6.000
PERÍODO AVALIADO - Meses 60 60
NÚMERO DE PARTOS POR VACA 4 5 1
NÚMERO DE PARTOS TOTAL 400 500 100

 

FATURAMENTO COM VENDA DE LEITE
REBANHO 1 REBANHO 2 DIFERENÇA
NÚMERO DE LACTAÇÕES 400 500 100
LEITE PRODUZIDO NOS 5 ANOS - Litros 2.400.000 3.000.000 600.000
LEITE PRODUZIDO POR ANO - Litros 480.000 600.000 120.000
PREÇO DE VENDA DO LEITE R$ 1,50 R$ 1,50
FATURAMENTO ANUAL COM VENDA DE LEITE R$ 720.000,00 R$ 900.000,00 R$ 180.000

 

FATURAMENTO COM VENDA DE ANIMAIS
REBANHO 1 REBANHO 2 DIFERENÇA
NÚMERO DE BEZERRAS 200 250 50
VALOR DE VENDA DAS BEZERRAS R$ 1.000 R$ 1.000
FATURAMENTO TOTAL 5 ANOS R$ 200.000 R$ 250.000 R$ 50.000
FATURAMENTO ANUAL R$ 40.000 R$ 50.000 R$ 10.000

* Foi considerado um valor de R$ 1.000,00 por bezerra, somente para fêmeas, não considerando valor comercial para os machos.

O faturamento do REBANHO 2 com a venda de leite foi maior em R$ 190.000,00 por ano (venda de leite + venda de bezerras), o que representa uma diferença acima de 25% de faturamento em comparação com o REBANHO 1, somente em função do aumento do desempenho reprodutivo, reduzindo o intervalo entre partos. Muitos criadores não se deram conta do que deixam de ganhar simplesmente por não estarem atentos a esta informação do rebanho. A perda é muito grande.

Para a criação de gado de corte e de ovinos o raciocínio é o mesmo, quanto menor o intervalo entre partos, maior o numero de bezerros e de cordeiros nascidos e disponibilizados para a venda ou incorporação no rebanho como matrizes e reprodutores.

Porém, somente a avaliação do intervalo entre partos do rebanho não dá uma visão completa de toda a situação. Se o IEP estiver bom, ótimo. Mas e se não estiver, o que está acontecendo? Em qual etapa do processo está a ineficiência? Na ocorrência de cios? As vacas e ovelhas estão entrando em cio? Há matrizes em anestro (ausência de cio)? No caso de uso inseminação artificial, os cios estão sendo detectados com eficiência? O processo de cobertura ou inseminação está sendo eficaz? Os reprodutores estão aptos, com boa qualidade de sêmen? Os inseminadores estão bem treinados? Após a concepção, as matrizes estão mantendo a gestação até o final ou há problemas causadores de perdas gestacionais, sejam elas de origem infecciosas, nutricionais, entre outras? Enfim, são muitos os pontos de vulnerabilidade do processo, e somente a avaliação do IEP não dá pistas sobre eles. Este índice somente mostra o resultado final, o somatório final de todas as variáveis existentes. Outro detalhe é que só se pode avaliar o intervalo entre partos de vacas ou ovelhas que tenham 2 ou mais partos. O IEP não contempla matrizes de primeira cria ou que ainda não apresentaram nenhum parto. Por fim, esta avaliação é tardia, quando se fecha o cálculo do índice o período em que se podia interferir no resultado já se passou, já aconteceu, não se pode fazer mais nada, só resta festejar ou lamentar.

Concluindo e colocando cada coisa em seu devido lugar, o IEP é o objetivo final, deve-se trabalhar para obter o menor intervalo entre partos possível, biológica e economicamente viável. Mas para alcançar o objetivo deve-se lançar mão de outros indicadores, mais específicos e mais “on time”, a tempo de executar uma ação corretiva. Afinal, índices zootécnicos têm que ter uma aplicação prática, que transforme a realidade, não servem apenas para serem um número bonito a se mostrar.

Na sequência deste artigo aprofundaremos mais esta discussão, apresentando outros índices e artifícios disponíveis e sua aplicabilidade no trabalho de acompanhamento reprodutivo do rebanho.


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